Não poderia expressar melhor do que Mauricio Neves (@badsnows), por isso transcrevo aqui o texto dele postado no blog do Lédio Carmona:
"O Grêmio tinha uma grande vantagem. Uma vantagem de até poder perder, de modo que se pode dizer que jogava pelos três resultados que existem no jogo de bola: vitória, empate e derrota. O Inter jogava pelo imponderável.
Como se quisesse testar seus limites, os colorados foram a campo bagunçados. Kleber deixou de ser displicente na ala para ser displicente no meio e assim o Grêmio abocanhou os espaços, a bola, o jogo. Um a zero com Lúcio, gol desmoralizante pela falha amadora da linha burra.
Como sair dessa enrascada? É claro que o Inter tem tamanho para um feito desses, mas com que armas, neste domingo de Olímpico lotado? Com Zé Roberto, esse pecador que tanto despreza a bola que Deus lhe deu? Com Renan, o goleiro das coberturas no primeiro jogo?
Sim, com Zé Roberto. Uma cavada para cima de Rochemback e o passe para o giro de pivô de Damião; um escanteio pingado que se transformou no gol de Andrezinho que, bravo saci colorado, já se segurava em uma perna só; e uma descida em diagonal no buraco da defesa para sofrer o pênalti que D’Ale guardou.
Como tu és absurdo, Zé Roberto, com toda essa ginga e toda essa bola, com toda essa vocação decisiva, precisas do acaso para sair do banco e escrever teu nome no Grande Livro Vermelho da História do Maior Campeão do Estado do Rio Grande do Sul. Mas obrigado, Zé Roberto, te agradece o cronista, pelo personagem que tu foste esta tarde, driblando contra a multidão azul, como se um punhal houvesse rasgado o céu para fazer escorrer sobre Porto Alegre um sangue vermelho, teimoso e valente.
Sim, com Renan. De que lado tu estás, Renan? Tu és aquele goleiro indeciso diante das bolas alçadas, ou aquele que cresceu para cima de Júnior Viçosa, impedindo que o campeonato se decidisse já antes dos vinte minutos? Quem és tu, Renan, para soltar a bola dominada após a virada heróica?
Renan esteve para ser o goleiro que assistiria a festa de Victor, que defendeu dois pênaltis. Mas, sabe-se lá de onde, talvez daquela mancha vermelha de colorados espremidos entre tantos gremistas, talvez de seus melhores sonhos de guri que queria ser goleiro, Renan foi buscar a força para defender três pênaltis. E quem mais para converter o pênalti final se não esse inacreditável Zé Roberto?
O Grêmio teve tudo para ser campeão. A vantagem, o gol inaugural, a falha do goleiro adversário que o devolveu ao jogo quando tudo parecida perdido. Se fosse um outro campeonato, um outro clássico, o time na posição do Grêmio teria vencido. Mas era um Gre-Nal, esse acontecimento que não se explica pela lógica, que se vence com a alma. E porque o Gre-Nal é algo que vence com a alma, a festa é vermelha.
Zé Roberto saiu do banco para decidir. Renan foi do inferno ao céu. A torcida do Grêmio, antes festiva, saiu do Olímpico em uma procissão muda, calada de tanta dor, tentando entender o que acontecera momentos antes. Afinal, para espanto dos tricolores, o Imortal do dia foi o Internacional.
Há muitas coisas que o futebol pode fazer. Mas um campeão como esse Internacional, um campeão de alma, só o Gre-Nal. Absolutamente só o Gre-Nal."
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